Sousa Gaio o moleiro de Couce e o seu fiel amigo, o burro maltês, caminhavam em silêncio por um carreiro das cercanias da Serra da Pia em mais uma jornada árdua do carrego da farinha. Quando chegaram perto das fragas do diabo, sentaram-se à sombra de um sumptuoso carvalho para o repasto. Gaio comeu uma refeição simples que trazia na sua marmita de alumínio constituída por batatas com couves, toucinho de porco, uma morcela de sangue e couves-galegas da horta acompanhados do respectivo néctar: o tinto americano. Quanto à refeição do seu fiel burro, esta era constituída por uma mão cheia de milho, outra mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Após o simples repasto, maltês quebrou o silêncio, fazendo uma pergunta ao seu amo e senhor: - meu amo, como entro no Nirvana? Gaio permaneceu em silêncio sepulcral. Passaram-se quase cinco minutos e maltês aguardava ansiosamente por uma resposta. Nisto, quando estava quase a fazer outra pergunta o moleiro de repente falou. - Consegues ouvir o som da água do rio? Maltês não tinha consciência de nenhum rio nas proximidades, pois sempre se ocupou mais em pensar sobre o significado do Nirvana já que via-se sempre no inferno daquele vai e vem diário que fazia mossa nas suas queridas patas e as deixava em chaga. No inicio não enxergava nada, depois lentamente lá foi pondo os seus sentidos em estado de alerta amarela, ao que se seguiu o laranja e finalmente o vermelho até que por fim lá foi conseguindo ouvir o rumorejo das águas ao longe. – Sim, agora estou a ouvir o som das águas! Gaio olhou-o com um olhar doce e manso e disse: entra agora no Nirvana Maltês ficou atordoado e sem saber o que o seu amo dizia. Continuaram a percorrer o caminho pedregoso em silêncio e Maltês começou a surpreender-se com toda a vivacidade que o envolvia e que nunca tinha reparado antes no carreiro que tantas vezes tinha calcorreado. Em êxtase e com avidez desfrutou de tudo como se fosse a primeira vez. Mas, eis que começa de novo a pensar a pensar…com os seus botões e não demorou muito a que fizesse nova pergunta ao seu amo e senhor. Amo, tenho estado a cogitar cá com os meus botões que me pregaste na albarda. - O que me dizia se eu não fosse capaz de ouvir o ruído das águas do leito do rio de Couce? O amo voltou a dizer: entra no Nirvana a partir daqui.
A PENSAR A PENSAR…MORREU UM BURRO!
A PENSAR A PENSAR…MORREU UM BURRO!
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