sábado, 15 de maio de 2010

BOLA AO CENTRO

Corre-me no sangue, sempre estive mais no palco que na plateia. Enquanto outros liam eu escrevia, enquanto outros ouviam eu cantava, enquanto outros olhavam eu desenhava e pintava…

Pelo pouco que conheço do mundo sempre me senti bem lá por fora, e sempre fui tratado como aquilo que sou.

Em tempos sabia-me bem voltar ao meu cantinho, nasci português e nunca requeri dupla nacionalidade; de há uns anos para cá cada vez que regresso sinto um “je ne sais quoi”, misto de frustração e desalento, por voltar à terra que me viu nascer.

Dizem que a História se repete, mas na minha opinião é com os erros que se aprende, para não repetir aquilo que deu mau resultado no passado.

É com grande espanto que vejo renascer um Bloco Central protagonizado por dois actores medíocres, quando tenho a certeza que a merceeira que me abastece de pão e legumes faria bem melhor em qualquer palco político e financeiro: resistiu heroicamente ao ataque das grandes superfícies que vão nascendo como cogumelos nas redondezas, e tem orgulho em dizer que foi “botar a cruz” uma única vez, viu o resultado e agora só repetirá o acto quando for ela, um cliente ou um fornecedor de confiança a serem sufragados.

Em nome da crise vale tudo, e crise económica é coisa em que os portugueses estão mais que traquejados, desde os tempos da monarquia até à terceira república: deveríamos ser nós a comandar os exércitos que lutam para debelar a crise mundial e não a ser vítimas dela acatando carneiristicamente ordens absurdas de chefias obscuras; eu e certamente a maioria da vizinhança faríamos todo o gosto em que fosse a D. Odete a comandar as tropas, tenho a certeza que a perder nunca ficaríamos.

Considero um acto de cinismo o Aníbal Silva (eleito por todos o pior ministro das finanças europeu de 1980, e por alguns o verdadeiro “pai da crise”) ter reunido com outros ex tão maus ou piores do que ele para “fazer um balanço e encontrar saídas”.

Agora que vou aos poucos ficando arredado do palco, da plateia e até do balcão, eu que nunca fiz questão em ficar em camarotes cada vez me sinto mais na geral.

No papel de espectador estou em vias de desistir de tentar entender este enredo macabro, desconexo e idiota representado num palco baço, pardacento e depressivamente decadente sem autores, encenadores ou actores de jeito, continuando os cenógrafos, técnicos, guarda-roupas e pontos a exercer a sua função sem grande convicção, certamente comentando profissionalmente entre eles: que se foda, é p’ra porcos!

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