sábado, 21 de novembro de 2009

Gender and desire: does intelligence damage women?


Seria a inteligência um atributo masculino? Segundo o filósofo Immanuel Kant, a mulher poderia chegar a ter inteligência, contudo, com isso ela despertaria apenas respeito do homem, mas não mais seu amor e perderia todo o poder que ela pudesse ter sobre o sexo forte. Tal é dito no texto Observações sobre o sentimento do belo e do sublime. 1 O esforço na ciência é sublime, pesado, portanto é masculino; o sexo feminino é belo, leve, ele apraz imediatamente. O enorme esforço para entender Descartes, Leibniz, as equações de Newton, desperta o sentimento do sublime, não do belo, por isso é contrário à natureza feminina. As mulheres poderiam se deixar levar por essa dura empreitada, contudo perderiam aquilo que nelas agrada imediatamente, sua beleza e leveza:
O estudo laborioso ou a especulação penosa, mesmo que uma mulher nisso se destaque, sufocam os traços que são próprios a seu sexo; e não obstante dela façam, por sua singularidade, objeto de uma fria admiração, ao mesmo tempo, enfraquecem os estímulos por meio dos quais exerce seu grande poder sobre o outro sexo.
Kant vai se referir a algumas mulheres do século XVIII que ousaram adentrar em campos do conhecimento considerados masculinos: Anne Dacier (16541720) comentou e traduziu clássicos grego-romanos e Gabrielle Emilie (17041749), marquesa de Châtelet intimamente ligada a Voltaire, traduziu e comentou os Principia de Newton:
A uma mulher que tenha a cabeça entulhada de grego, como a senhora Dacier, ou que trave profundas discussões sobre mecânica, como a Marquesa de Châtelet, só pode mesmo faltar uma barba, pois com esta talvez consigam exprimir melhor o ar de profundidade a que aspiram.
Para amar alguém, precisamos nos sentir superior a tal pessoa. Como diz Kant na reflexão 14 do Nachlass: "Nós precisamos mais ser honrados do que amados, mas nós também precisamos algo para amar com que não estejamos em rivalidade. Então amamos pássaros, cachorros ou uma pessoa jovem, inconstante e querida".
A igualdade inspira respeito e amizade, o amor necessita de desigualdade. Kant é categórico sobre a impossibilidade de se amar um superior leia-se, de um homem amar uma mulher que considere intelectualmente superior a si mesmo: "Quando se aprecia demais alguém, torna-se impossível amá-lo. Embora suscite admiração, está por demais acima de nós para que ousemos nos aproximar dele com a intimidade do amor".
Ao dizer que a mulher relaciona-se ao belo, Kant não nega a relevância do seu papel na sociedade, nem a reduz a um papel doméstico. Ela deve freqüentar os salões e deixar os homens mais leves com sua presença, servindo de contraponto à seriedade dos assuntos masculinos:
O belo feminino deve servir como uma pausa ao sublime masculino, pois aqueles que combinam ambos os sentimentos descobrem que a comoção do sublime é mais poderosa que a do belo, só que, sem se alternar com esta ou ser por ela acompanhada, cansa, e não pode ser desfrutada por muito tempo.
Além de trazer leveza à conversação, as mulheres, devido aos seus sentimentos sensíveis, cumprem um papel de educação moral do homem. A mulher "dispõe de sentimentos piedosos, de bondade e compaixão. [...] Seu sentimento acusa a menor ofensa e é extremamente aguçada em notar a mínima falta de atenção e respeito para consigo. Em resumo, é ela que dispõe, na natureza humana, do fundamento essencial do contraste entre as qualidades belas e nobres, tornando mais refinado mesmo o sexo masculino". 7 Mesmo a virtude nela não é sublime, mas bela. Assim, a reprovação feminina do mal não passa pela idéia de justiça, mas pela sua monstruosidade estética: "ela evitará o mal não por ser injusto, mas por ser repulsivo; ações virtuosas significam para ela as que são moralmente belas".
A leveza do belo feminino faz com que a ciência seja, para ela, árida demais.
Teria Kant ainda razão? A pergunta "Seria a inteligência um atributo masculino?" transformar-se-ia em "Queremos ser inteligentes e despertar apenas o respeito masculino e não mais seu amor"?
Poder e inteligência são atributos eróticos masculinos, e beleza e juventude atributos eróticos femininos.
Talvez alguns se lembrem ou tenham visto documentário sobre a tentativa de Henry Kissinger aproximar-se da China comunista. Em uma histórica reunião entre o então presidente Mao Tse Tung e Henry Kissinger, para quebrar o gelo daquela que deveria ser uma das mais tensas reuniões da política do século XX, Mao Tse Tung arriscou uma primeira pergunta a Henry Kissinger. Como ele, sendo tão gordo, fazia tanto sucesso com as mulheres? Ao que ele respondeu com a famosa frase: o poder é afrodisíaco.
Assim como Kant, Kissinger também sabia que o poder era afrodisíaco, desde que fosse um atributo masculino. O poder e o saber são afrodisíacos, enquanto propriedades do homem. Isso pode ser tomado em dois sentidos: as mulheres são atraídas por homens que possuem tais qualidades, sem dúvida. Mas existe um outro sentido, inexplorado nessa afirmação de Henry Kissinger: os homens gozam o próprio espetáculo narcísico de exibição de seu poder e saber, espetáculo que excita, antes de tudo, a eles próprios. O espetáculo de inteligência feminina roubaria a cena e tornaria aquele contato anti-erótico.
Muitas vezes, é erotizado na mulher exatamente o contrário da inteligência. Assim, a má pronunciação de fonemas do inglês por parte das latinas nos Estados Unidos – tais como Penélope Cruz – é considerada sexy.

Em suma a inteligência é um atributo erótico do homem, enquanto a beleza é o que torna uma mulher atraente. Eu inicio por Immanuel Kant, filósofo do século XVIII, segundo o qual uma mulher inteligente pode despertar a admiração de um homem, mas não desejo e amor. Mais do que isso, uma mulher inteligente, mesmo que bela, perderia seu poder sobre os homens, pois a inteligência arruinaria a atratividade feminina. Eu mostro que essa visão antiga ainda está em voga atualmente. Muitos autores defendem a visão de que o que torna uma mulher atraente para um homem é a beleza, a inteligência sendo negativa ou indiferente. Alguns teóricos inclusive atribuem esse fato a uma essência natural do ser humano. Eu contesto essa visão, mostrando que a beleza tem um aspecto cultural e que não podemos falar de uma essência não-histórica do ser humano.

In Rev. Estud. Fem. vol.13 no.3 Florianópolis Sept./Dec. 2005

4 comentários:

florêncio disse...

é muito assim....

ex combatente conjugal disse...

leveza do feminino, bem será a insustentável leveza do barrote pelas costas abaixo?!

angélic disse...

ainda se fosse paulo coelho, agora esses ditos filósofos, dantes as mulheres nem lavavam os dentes que fará a respectiva....aquilo é que era a insustentável leveza que fazia mossa

peço explicações disse...

o que se entende por essencia natural?!