sábado, 22 de agosto de 2009

O Jegue Gadelha


Neca Janjorge o moleiro da Azenha respeitava tanto o Jegue que não ousava sequer montá-lo. Caminhavam lado a lado e conversavam sobre as coisas simples da vida, confidenciavam intimidades e problemas existenciais comuns. Gadelha entendia o que o patrão lhe dizia e este, quando o arreava gostava de o mimar com uma mão cheia de grão de milho que ele devorava com inusitado prazer e sofriguidão. Era uma mansidão! Entre eles sempre existiu sintonia perfeita e compreensão. Gadelha nunca esboçou um coice ou relincho de desagrado. Anatomicamente, caracterizava-se por ter umas orelhas grandes e peludas, cabeça volumosa, focinho curto e lábios grossos, dentes grandes e esverdeados uns e amarelados outros, patas grossas, abundante pêlo grosso por todo o corpo em tom castanho-escuro e envergadura a sugerir robustez. Temperamento dócil e afável…Em Janjorge sentia-se uma tristeza enorme por o seu querido Jegue estar a caminhar para a inactividade, velhice e quiçá, morte.
No dizer de Tone da São, o ferrador, os cascos teriam de se refazer para poderem num futuro receber uns sapatos mais confortáveis ou mesmo umas alpercatas, quiçá os últimos, que calçaria na sua já longa vida de mais de trinta anos.

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