sexta-feira, 16 de abril de 2010

Poesia de um amigo...

nas horas insensatas.

aquelas em que as lágrimas.
o tédio.
pedem o eclipse.
e a morte.
do imprevisto.
adormece nos relógios.
é nessa hora.
amor. que irrompes.
como chuva torrencial.
nos meus olhos.
há sim.
um tique taque.
que enlouquece.
e o teu corpo ausente.
transforma-se num espectro de ângulos indefinidos.
e contornos vagos.
como a neblina.
no tempo.
em que ouvia a tua voz.
e os nossos segredos.
acalentavam.
um pouco mais de luz.
no olhar.
até o eclipse.
podia ser.
uma cerimónia de amor.
porque tudo era possível.
na voz.
trilho que se abre.
na solidão do cume.
assim.
vamos esgravatando abismos.
e o medo.
é o nosso único aliado.
como sepultar a saudade.
se não na palavra.?
o verão.
está ainda na infância.
e por isso.
"o lugar mais erótico.
do teu corpo.
está onde a roupa.
o desvenda.
uma saia aberta até às coxas".

Alberto Serra

2 comentários:

Eva Gina disse...

Soneto da donzela ansiosa


Arreitada donzela em fofo leito
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras sutis pachacho estreito.

De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branda crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito.

A voraz porra, as guelras encrespando,
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrando.

Como é inda boçal, perde os sentidos;
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.

Manuel Maria Barbosa de Bocage

Eva Gina disse...

Vive, dizes

Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas.
Vê-las sem tempo, nem espaço.
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.

Alberto Caeiro, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa
(1888-1935)