domingo, 10 de maio de 2009

cOUCE..depoimento


Naquele tempo não havia vergonha de andar ao gigo, que remédio! Havia mais gente: era o «Jaquim da Bela», o «Tone Janela», o «Neca Tosta», era o «Zé Motreco», o «Fim Rana», o «Jaquim Alivia». Era o tempo do capataz das minas. Trabalhava-se e chegava-se ao resto e «toma lá só metade». A gente botava a conta e às vezes mais, mas não era a que eles queriam. Ainda me lembro que na última vez que eu andei a mineiro - está de testemunha um que mora ali em cima, em Tardariz, o «Zé Rato Seco», em que se fazia assim: a conta era, por exemplo, 15 e eu botava as 15, mas ficavam duas no canal e o carreteiro dava conta ao capataz que carregara 13. Ora os que entravam no turno seguinte, ficavam a lucrar aquelas duas. A gente sofria aquilo. A gente bem protestava, mas tinha que se calar. Era «come e cala-te». Aconteceu assim a muitos.
Como podemos visualizar na imagem, as seroulas do Tone Janela encontram-se a secar no arame da roupa a contar das esquerda. Como em Couce, por vezes as confeccções arame estão em funcionamento 24 horas por dia, Zé da Inês tirou as dele do estendal, não fosse o diabo ser tendeiro e lá se iam as suas cuecas únicas. Não se admirem, pois extrapolamo-nos à época de 50. Quem nesta altura tinha o privilégio de ter mais que um pijama?!

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