quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lenda do tesouro de Couce


O Padre Joaquim Alves Lopes Reis conta assim a lenda das riquezas supostamente deixadas pelos mouros nos fojos de Santa Justa:


"Ainda a estes tempos de historia dubia remontam outros factos que nos conta a lenda e conserva a tradição. Queremos referir-nos à crença antiga que existia aqui de que os mouros tinham deixado nos fojos da Santa Justa thesouros escondidos e grande quantidade de ouro e prata, crença que augmentou muitissimo com o apparecimento de um celebre roteiro, escripto em letra redonda, que, comendo varios pacovios, dizia estarem em certos e determinados logares cousas riquissimas que nunca ninguem viu, nem chegará a ver.
Arrastados pelo que dizia esse livro, que se acreditava como se fosse uma Escriptura, vinham a esse monte muitos illudidos que a todos os dias e a todas as horas entravam pelas cavernas e furnas, seguindo as indicações que tinham e sabiam, e entre eles um tal Enxota diabos dos lados de Avintes, que com essas artes magicas e encantamentos poude tratar com o Espirito guardador d’estes thesouros a facil maneira de os possuir.
Combinou o negocio não sei se com escriptura e papel sellado (quem seria o juiz n’esse tempo?) e no dia aprazado appareceu com grande numero de carros que queria carregar de ouro. Era pelas onze horas da manhâ de um dia nebuloso e triste e o Enxota havia-se adiantado da comitiva para pedir o cumprimento do tratado que havia feito. Mas, quando despreoccupados e alegres todos esperavam para breve a ordem de enriquecer, levantou-se no monte tamanho furacão que carros, bois e povo, tudo, voando pelos ares, foi parar a grandes distancias, recebendo tal lição que nunca mais pensaram em ser ricos por esta forma.
Com um outro individuo de Vallongo chamado o ‘Avô-Tó’ aconteceu tambem que, tendo um dia de noute tratar com um certo espirito, que era evocado altas horas, a consecução de grande quantidade de ouro, appareceu lá n’outra occasião combinada e recebeu, contava elle, dous saccos cheios de reluzentes moedas de ouro com que carregou um jumento e veio para casa com a condição de em todo o caminho não pronunciar palavra. Mas o homem não foi fiel á promessa. No termo quasi da sua empreza, vendo que o animal ia a tropeçar bastante, não pôde deixar de soltar um terrivel chó! que foi causa de que ao abrir os saccos não encontrasse, senão terra negra e fria."

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